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Indesculpável

por Azarão, em 21.07.20

As minhas mãos não são,

Nunca foram hábeis

Em acarinhar outra mão,

Em afagar outra face,

Em fazer cafuné,

Em se deixar deslizar por pescoço,

Nuca e coluna alheios

A suscitar suspiros, estremecimentos e frenesis.

 

Igualmente,

Não são,

Nunca foram hábeis

Em dar porradas,

No pugilato,

Em esmigalhar narizes e romper supercílios.

 

Os mais sinceros e delicados carinhos

Que já fiz,

As mais devotadas e incondicionais paixões

Que já despertei,

Os mais profundos gozos e apneias

Que já extraí

Deram-se pela minha escrita.

Minhas cartas, meus poemas, recados dentro de livros, bilhetes sob a xícara de café.

 

E os olhos mais inchados

E os corações mais rasurados

E as feridas mais indesculpáveis,

Também.

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